terça-feira, 16 de novembro de 2010

Carnalidades



A ponta aguçada da lâmina, que de tão límpida espelhava minha alma, perfurava o meu pulso esquerdo. A lâmina da faca de dois gumes aos poucos, lentamente, penetrava a minha derme, fazendo transbordar o meu sangue, ao rubro.
É um corte na carne que dilacera a alma. A navalha ensanguentada cai ao chão e tinge em tons de escarlate o cristal límpido. Os olhos, repletos de raiva, repletos de lágrimas e de amargura, eles afogam-se e desaguam na pele da alma cor de ébano. As gotas cristalinas caem sobre a mesa de cravo cravado em dor, laços feitos com defeitos, sem efeitos. Caem as gotas fazendo soar o fado triste, oriundo lá de dentro, bem das masmorras do coração. A garganta arranhada que gritou todo o seu amor e sofrer está em putrefacção, confinada em estados d’alma, dos quais não se desacorrenta, não se solta.
. Tudo terá dias melhores, menos tenebrosos. Dias em que ao sair de casa, deixando o cofre em tuas mãos, ter a certeza que ao regressar ele ainda lá estará a palpitar por ti. A esperança não está morta.
“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar, para pensar, a verdade não há”. E assim, findo o meu estado de alma, aqui. Quiçá esqueceste-te de tudo de bom experimentado quando fomos um só. Trocaste tudo. Tudo por prazeres banais. Tolices tuas, banalidades, carnalidades.