E quando acordei estava deitado na calçada, na rua. O temporal estava forte naquela noite. Estava ferido, cansado, sofrido, vivido. Mas a guerra havia acabado, finalmente. Perdi. Mas… A guerra havia acabado! O meu corpo estava pesado. Não conseguia levantar-me. Era como se estivesse totalmente preso ao chão. Era como se a gravidade me puxasse para o centro. Ninguém movia uma palha para ajudar-me. Fechei novamente os olhos e apoiei as minhas mãos no chão.
Com todas as forças que restavam desse soldado que um dia amou, levantei-me, suportei-me nas minhas botas fatigadas, ergui a cabeça, olhei para o céu e sorri. As nuvens se esconderam e foi quando eu vi a lua, e as estrelas.
Aos poucos, com o tempo, as feridas cicatrizavam, estava tudo a ficar como antes, o habitual. Eu estava bem, quase curado. Por vezes ainda sangrava, mas muito menos que antes. A sala de espelhos era minha casa. A preciosa Patrícia era minha confidente e fiel companheira. Era um mar de rosas. Tudo como antes…
E de sorriso aberto apareceste, com um brilho intenso no olhar. E tudo aconteceu. Outra vez. Como magia, na velocidade que passa uma estrela cadente. Levitei quando me tocaste, mal conseguia respirar. Era como se tudo estivesse estagnado. Onde estava o ar? Onde estava o chão? A tua voz soava como o canto das sereias, e petrificavas-me. Perdido, sim.
No mesmo instante o breu cobriu o céu de escuridão. As nuvens que outrora fizeram-me reparar na lua, esconderam-na dos meus olhos. Ouviam-se os passos ensaiados dos soldados. Outra vez deixei-me encantar por angelicalidades de príncipes encantados. Embeveci-me por utopias que eu sabia onde me levariam – ao abismo. A guerra começava outra vez.
Pobre coração frágil e inconsequente. Pobre carne sôfrega e fraca. Outra vez esse soldado estava na guerra. Decidira amar outra vez. Não é questão de aprender. É que há coisas, ingenuidades. E ele parte em guerra. Outra vez. Sem armadura, sem escudo, sem capacete. Parte em guerra somente com a espada. E o coração, ingenuamente de peito aberto para morrer, para sofrer, para cair do abismo e…
Amar.